Conheça a história (brasileira) da informática

03/08/2010 15:07

 Quando falamos em história da informática, logo nos vem à mente oscomputadores 8088, o MS-DOS, o Windows 3.11 e o Unix. Mas muita gente se esquece – ou talvez nem saiba – da história brasileira da Informática, uma fábula marcada pela vergonha.

Na década de 80, o Brasil estava vivendo seus últimos anos de Ditadura Militar. Os homens de farda que comandavam o país viram que a tecnologia estrangeira era muito superior à produzida pela indústria nacional. Como eram um governo militar, não podiam deixar a sua Pátria ser humilhada desta maneira e, então, tiveram uma ideia genial. Alguém disse: “Vamos proibir a importação de todo e qualquer material relacionado à indústria da informática para que as empresas nacionais se desenvolvam e, quando reabrirmos o mercado, elas poderão concorrer em pé de igualdade  com as americanas”. Sim, você pode estar tendo um treco ao ler isso, mas foi exatamente o que aconteceu: os militares criaram a famosa Reserva de Mercado, através da qual comprar qualquer computador ou software no estrangeiro era proibido.

Com isso, várias empresas nacionais, como a Itautec e a Convergente, ganharam destaque. Embora sempre houvesse algum espertinho que conseguisse trazer um programa de fora, legalmente apenas os programas produzidos aqui existiam. Os planos militares estavam dando certo, mas não terminaram conforme o esperado pois, quando o presidente Fernando Collor acabou com a Reserva de Mercado, a indústria de informática americana simplesmente esmagou a brasileira, que era sustentada em carroças com processador 8088 e softwares piratas.

A pirataria, naquela época, no entanto, não era como a de hoje, onde se baixa um programa e este é usado sem uma licença: era mais grave: os “programadores” brasileiros pegavam um software estrangeiro e, através de engenharia reversa, mudavam o nome do programa e diziam que eram eles quem tinham feito. E o fabricante nem podia reclamar, pois as empresas eram protegidas pelo governo, que dava aval a esta prática.

Abaixo, selecionamos uma pequena lista de programas nacionais que foram sucesso na década de 80 mas caíram no baú do esquecimento e, ao final, damos referências onde você poderá encontrar mais informações dessa passagem esquecida de nossa história tecnológica.

SISNE Plus

Capa do manual do sistema operacional SISNE PlusTrata-se de um sistema operacional desenvolvido pela Itautec e pela Scopus. Na verdade, é um clone do MS-DOS, com algumas pequenas falhas (por exemplo: quando aparecia uma mensagem “Quer continuar (S/N)?” era preciso apertar Y). Dizem que ele teria sido escrito em Turbo Pascal. Quando a Microsoft soube de sua existência, tentou processar as fabricantes para que parassem de vender esta cópia ilegal de seu sistema mas, como a empresa era protegida do governo, todos os apelos do tio Bill foram solenemente ignorados. Com o fim da reserva de mercado e a grande disseminação do MS-DOS original, este sistema foi descontinuado.

SOx Unix

Nós também tínhamos um sistema Unix-Like. O SOx Unix talvez tenha sido um dos mais bem-sucedidos projeto da informática nacional chegando, inclusive, a ser certificado como UNIX-compatible pela X/Open em 1989. Foi desenvolvido pela COBRA Tecnologia e projetado para rodar em seus próprios computadores. Apesar de ter sido um sucesso tecnológico, o SOx veio muito tarde, quando a COBRA deixou de dar suporte a ele. Depois disso, ele foi descontinuado e o governo optou pelo System V 4.0. Você pode encontrar mais informações sobre o SOx neste blog.

Redator

Tela clássica do processador de textos RedatorUm dos mais bem-sucedidos projetos da Itautec. Tratava-se de um processador de textos em modo texto. Uma curiosidade é que o produto ainda existe mas mudou de ramo: atualmente, ele é um clone da versão clássica do Microsoft Word com ênfase em Gramática, Concordância e Literatura da Língua Portuguesa, sendo muito usado em escolas de ensino fundamental e médio.

Carta Certa

Foi o processador de textos nacional que mais fez sucesso durante a Reserva de Mercado, respondendo por 40% dos editores do Brasil. O único erro do Carta Certa era que ele era um processador de textos para DOS e sua desenvolvedora, a Convergente, tinha apenas um grande cliente:a Caixa Econômica Federal. Quando a Reserva acabou, a Convergente prometeu que iria desenvolver uma versão do editor para o Windows 3.11, mas a Caixa não quis esperar e o substituiu pelo Microsoft Word. Como resultado, o programa que outrora dominava 40% do mercado foi descontinuado e a Convergente acabou sendo vendida.

Onde obter mais informações?

Se, depois de ler esse pequeno texto, você ficou curioso ou ficou com aquela saudade, um ponto de parada obrigatório é o site DataCassete, que reúne um grande acervo de revistas e manuais da época. O site tem, inclusive, esses programas citados para download, mas vale um aviso: mesmo que eles não estejam mais no mercado, eles ainda estão protegidos pela lei de direitos autorais e utilizá-los sem licença é ilegal.

E você? Conhece ou se lembra de mais algum programa antigo? Então conte pra gente nos comentários!

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